Por fim, muito pelo contrário, por começo.

Theatro Municipal do Rio tomado pelo povo. Carnaval 2018.

Passados os dias de alegria interminável proporcionado pelo Carnaval é mais do que necessário uma reflexão. Andamos basicamente por dois lugares da cidade – centro e Tijuca.


Observamos como bons cariocas que a cidade reflete seus moradores e governantes – que não por acaso são eleitos pela população (pelo menos nas democracias, funciona assim, que não é o nosso caso recente).


Tinha propaganda para não fazer xixi no chão, mas não tinham banheiros químicos suficientes espalhados pela cidade. Para se achar um banheiro era necessário procurar muito ou pagar dois reais ou mais para se utilizar um banheiro de algum estabelecimento comercial.

Nesse ponto do banheiro devemos fazer uma crítica muito importante. Em alguns estabelecimentos como Bob’s, Mcdonald’s, Subway e afins, que por sinal ganham muito dinheiro nessa época do ano, mesmo o folião consumindo algo, o aviso que se lia na porta dos banheiros era que estavam interditados. Claramente uma manobra para impedir que as pessoas usassem o banheiro. (Lei sobre uso de banheiro em estabelecimento comercial.)

Um amigo teve que pagar dois reais para fazer xixi em uma tampa de boeiro aberta e obviamente privatizada pelo fulano que ali cobrava o dinheiro. Era isso ou fazer no chão e levar uma multa. Presenciamos uma briga entre um homem e uma mulher pelo uso de um banheiro químico, que estava sendo também privatizado.

Percebam o absurdo que é uma pessoa brigar com outra pelo direito de usar um banheiro químico. Não é apenas o uso, estamos falando aqui de uma cidade territorializada, estamos falando de um "poder" de quem diz quem usa e quem não usa o sanitário no Carnaval.


Pelas ruas próximas a Lapa, bares ampliando absurdamente seu espaço físico com grades (mais uma vez estamos falando aqui de uma territorialização do público - quem é o dono da calçada?), praticamente obrigando as pessoas que estavam em lugar público a sair, para colocarem suas cadeiras e mesas. Ou seja, se apropriando de algo público para um fim exclusivamente privado.

A falta de educação de algumas pessoas em vários casos chega a ser grotesca. Ao ínvés de se pedir um dá licença, por favor para avançar no meio da muvuca do bloco, algumas pessoas simplesmente passavam empurrando umas às outras e quem estava na frente levava um tranco e quase caia.


Transporte público? Nem pensar. Onde não havia trem ou metrô (sabemos que no Rio esses dois poderiam ser bem maiores e melhores), infelizmente o principal meio de transporte era o ônibus, que paravam de funcionar às 22h. Com isso muitas pessoas planejam sua volta para casa mais cedo. Ou era isso ou ficar penando tentando pegar um Uber ou táxi que iriam lhe cobrar um preço nada justo.


O Carnaval é uma festa que traz muitos recursos para a cidade, não há dúvidas disso, além de seu aspecto cultural. Contudo, é necessário pensar novas formas de se fazer Carnaval no Rio. Desde o Carnaval de rua ao da Marquês de Sapucaí. 

Desfile do bloco Butano na Bureta.

Desfile de blocos na Avenida Chile. O maior índio do mundo.


A cidade é o pano de fundo de todas as nossas aventuras e desempenha papel crucial aqui, por ser o lugar onde vivemos: moramos, estudamos, trabalhamos, encontramos os amigos, festejamos. Produzimos identidades, territórios, jeitos de ser e também de não ser. Produzimos cidades todos os dias, encarnamos a cidade em nós mesmos.


Infelizmente, não tenho dúvidas em dizer que a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que fará aniversário no dia 1º de Março - 453 anos, hoje é o que nós (ou pelo menos a maioria ou pelo menos quem não votou) escolheu ser pelos próximos anos. O Carnaval desse ano refletiu exatamente o que a cidade se tornou. 


Em tempo


Nos últimos dias o Rio passou por uma chuva de verão superforte, mas nada fora do previsto, afinal, todos sabemos que nessa época do ano isso é comum. Bem, para nossas autoridades, Carnaval e chuvas de verão que acontecem todo ano, na mesma estação, esses dois fenômenos - um cultural e outro climático, não são passíveis de previsão.



Sazonalidade - uma palavra a ser estudada pelos políticos do Rio.


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